Trapo Voador

Relexões e fotos sobre parapente / Thoughts and photos about paragliding

3.8.06

Montalegre - Estágio de Cross


Neste início de Primavera tinha em mente uma viagem até Piedrahita para iniciar a temporada de Voo em Montanha. Nesta viagem iríamos fazer um estágio de Cross com a equipa da Wind. Tudo preparado, ao contrário do que é normal, 2 a 3 dias antes da viagem. Contudo, a Meteo não estava favorável: a passagem de uma frente coincidia com os primeiros dias de voo e deixava uma previsão de vento forte e de quadrante NE que não era nada bom para Piedrahita. Partimos 6ª feira (dia 21 Abril) rumo a Linhares, ainda sem saber qual o nosso destino, para pernoitar na casa do parapentista. De manhã, logo se via qual o melhor local para voar.
Dia 22 Abril - Sábado Acordámos pelas 7.30, lá fora um frio de rachar com ventos de cerca de 60 a 70 Km/h, com 4 graus junto da muralha do castelo, nem fomos ver a descolagem, mas passámos ainda, no que para nós será sempre uma bela recordação, O Café do Tio Mimoso... O moral estava em baixo. Pensei que esta viagem não ia ser o que tínhamos programado durante meses. Lá seguimos rumo a Norte, depois de decidir que iríamos para o Larouco. Não era Piedrahita, mas era o melhor local que as previsões indicavam e já que ali estávamos não iríamos desistir. Passagem por Mirandela para encontrar mais 3 companheiros de voo, Passarinho, Cordeiro e Chico. Mais tarde, haveria de se juntar a nós o Apolinário e respectiva família, vindos directamente do Algarve. A paixão do voo é assim. A media que subíamos para Norte o céu foi abrindo, as nuvens desaparecendo e o vento diminuía de intensidade, afinal parecia que o Deus Larouco estava por alí. Chegados a Montalegre, parecia que tínhamos mudado de país. Estava um belo dia de Primavera. O vento de NE no limite fez com que começássemos o estágio pela teoria, antes da prática. A tarde foi passada numa esfrega de teoria pelo Nuno Gomes e o Cristiano Pereira. Que bela esfrega. O Nuno já todos nós conhecíamos de prelecções anteriores mas o Cristiano foi uma novidade. Grande mais valia poder partilhar experiências com dois pilotos desta craveira, ainda por cima com um sentido pedagógico acima da média. Fizemos um "forcing" na teoria, porque as previsões para os dias seguintes eram muito boas para voar e queríamos passar a maior parte do tempo na montanha e, se possível, bem alto e longe.
Dia 23 Abril – Domingo
Acordámos cedo, como de costume, às 7.30. Na montanha, o amanhecer é um momento mágico. O prazer de sair para a rua descalço, ir para cima de uma pedra e contemplar a natureza, sentir o cheiro das plantas e ouvir o chilrear dos pássaros é inspirador e comovente. Tenho sempre este sentimento quando tenho a oportunidade de desfrutar de um dias fora do stress da grande cidade. Mais teoria pela manhã. As previsão indicavam vento N/NE fraco com tecto a 2400m e formação de nuvens. Planeamos uma possível prova para esse dia e subimos para a descolagem Sul. O vento estava NE, mas com um pouco mais de intensidade do que as previsões apontavam. Um grupo de franceses estava na Descolagem. Tinham vindo de férias ao Larouco para voar. Acertámos os instrumentos e fomos observando a evolução das condições. Saiu o Sam para verificar as condições e esteve para "marrecar" mas lá subiu um pouco e fez "top landing". Depois Saiu o Paulo Herculano e foi directo para o chão. As condições estavam a rodar para N e decidimos ir para a Descolagem de Baltar (já no lado espanhol da serra do Larouco). As condições estavam razoáveis, mas, com vento, a térmica tinha bastante deriva. Já não voava térmica há algum tempo mas,rapidamente, (muito mais rápido do que o ano passado, onde andei meio perdido inicialmente),todas as sensações voltaram. Entra, deixa entrar, roda e segura para não cair a sotavento. Foi um voo bastante agradável e com muita gente nas mesmas térmicas, foi engraçado voltar a enrolar, com muito pessoal a marcar as zonas onde se subia. Subi 400 metros acima da descolagem, numa térmica a derivar para Montalegre, mas estava baixo e fui contra o vento pelo meio do vale, onde enrolei mais umas térmicas. O Paulo Herculano tentou ir para Montalegre mas ficou numa aldeia perto da descolagem. O Cristiano subiu bem, mas como ninguém se conseguiu juntar a ele, andou a passear pelo vale. A maior parte do pessoal que não subiu muito, ficou curto para a aterragem oficial e foram ficando espalhados pelo vale. Eu, ainda alto, poderia aterrar na oficial mas decidi ir aterrar noutro lado. Era o treino para escolher locais fora da aterragem oficial. Não foi difícil. Um belo campo não lavrado onde tinham aterrado a Lena e o Apolináro. Pouco depois, o Cristiano aterrou também junto de nós. Não tinha começado nada mal este estágio no Larouco. Depois, mais um voo de fim de tarde para descontrair.
Dia 24 – Segunda-Feira Mais um dia a acordar cedo: 7.30. Hoje, dormi melhor. Lá fora as eólicas rodam bastante mais devagar que o dia anterior. A previsão feita na noite anterior indicava que hoje seria possivelmente o melhor dia de estágio. Tínhamos decidido que hoje iríamos chegar cedo à descolagem para observarmos a evolução das condições. Aprender a seleccionar o melhor momento para descolar é crucial. Muitas vezes, a janela do dia são 3 ou 4 ciclos bons que permitem subir nas melhores térmicas, chegar à nuvem e sair para distância. Assim foi. Chegámos cedo, montámos a prova na descolagem enquanto observávamos as condições: Baliza em Gralhas, voltar à descolagem e sair em direcção à barragem. Hoje, não temos o Cristiano que tem sido a nossa sonda e a nossa referência no ar, mas, mesmo assim, como estão os franceses, acaba por haver algumas asaS no ar para observarmos quem sobe e quem desce. Os ciclos estão mais fortes e menos espaçados e temos um cúmulo atrás da descolagem a sotavento do monte. O Nuno Gomes avisa que para ir à nuvem é preciso subir na térmica à frente e depois derivar a sotavento para a nuvem. Esta informação vai ser importante no decorrer do voo. Saem os primeiros pilotos e descolo no ciclo seguinte. Não me afasto muito do monte para ter algum suporte e não marrecar mas não consigo encontrar térmica e estou a ficar com pouca altura. Mais abaixo, o Bruno e o Apolinário estão à procura de térmica à esquerda no vale, cerca de 50 a 60 metros abaixo de mim. O Apolinário encontra a térmica mas já está muito baixo, dirijo-me para lá ao mesmo tempo que o Bruno. Cá está a térmica que precisávamos. Começo a enrolar e subo até aos 1900m (cerca de 400 m acima da descolagem). Reparo entretanto que o Bruno não está comigo e não conseguiu subir. Olho para a térmica de sotavento, onde o Fernando Amaral está a chegar à nuvem, mas não encontro forma de lá chegar. Abaixo de mim, vêm a Lena e o Chico, mas de uma térmica que derivava da direita do monte e que confluía com a minha que vinha da esquerda. Nesta altura oiço pelo rádio o Herculano a sair para Gralhas. Fico indeciso, ir para Gralhas ou tentar ir a sotavento....O Chico e a Lena já chegaram à térmica de sotavento e estão a seguir em direcção à nuvem. Decido tentar encontrar a térmica de onde eles tinham vindo, para ver se esta derivava mais para sotavento do monte. Encontro a térmica e chego novamente aos 1900, mas estou sensivelmente na mesma posição em relação à montanha. E a Lena e o Chico já saíram para distância. Estou sozinho. O resto da malta marrecou. Decido então sair para distância sem ir a sotavento. Cometo um erro porque, ao procurar um gatilho que me parecia lógico, o autódromo de Montalegre, saio da estrada de nuvens onde estava, para ir para outra paralela. Entro no azul e faço cerca de 5 km, sempre a descer para chegar ao autódromo. Quando chego, encontro a térmica mas já não estou muito alto e o cansaço já se faz sentir. Ainda enrolo a térmica mas ao fim de 4 voltas perco a térmica e decido aterrar junto à estrada, na entrada de Montalegre. Assim foi a minha primeira distância, apesar de tudo estou contente. Foi a primeira e a primeira é sempre especial. Tenho a noção que poderia ter ido mais longe, o Chico fez 22 Km e a Lena cerca de 30. A seguir, as emoções do costume. Comunicar a posição pelo rádio, despir o fato, arrumar a asa, telefonar à mulher e aos amigos a comunicar o feito e esperar pela recolha. Chega o Sam e vamos juntos recolher o Chico e a Lena. O Chico aterrou na barragem no golo previsto e a Lena segui em direcção a Boticas. No rádio, nada. Seguimos a estrada e finalmente conseguimos falar pelo telemóvel. Estava em São Salvador de Viveiro e queríamos saber como lá chegar. A Lena passa o telemóvel a um local para nos explicar qual a melhor estrada e tomamos a direcção indicada. Os Gps com mapa são uma ajuda preciosa. Depois de encontrarmos a terrinha no mapa, foi só seguir as instruções. Entramos na terra e perguntamos a uma menina se tinha visto aterrar um parapente. O seu sorriso não enganava. Tinha, com certeza, visto algo de diferente hoje. Imediatamente, apontou para a paragem de autocarro, a uns 20 metros, onde estava a Lena a acenar-nos. A menina e os seus amigos da escola, tinham ajudado a Lena a dobrar o parapente. Estavam na sala de aula quando avistaram um parapente e foram todos para a rua ver. A professora agarrou na máquina de filmar, filmou a aterragem e, para espanto de todos, esta máquina voadora era pilotada por uma menina. Foi um fim de tarde em cheio. A Lena estava com o mesmo sorriso que a menina da escola. Tinha feito o seu melhor voo até hoje. Beijos e abraços e fomos o resto da viagem a ouvir o relato dos voos do Chico e da Lena. De volta a Montalegre, os pilotos que de manhã ficaram na descolagem oficial, tinham ido descolar para Norte - Baltar. Ao chegarmos a Montalegre, vemos diversos pilotos na nuvem. Tentamos descobri quem seria e começamos a identificar o Pacífico, o Apolinário, o Passarinho o Cordeiro e o Zé Manel. Os Franceses vinham um pouco atrás mas também estavam na nuvem. Que dia em cheio, todos tinham feito as suas distâncias. Ia ser uma noite em cheio com muitas aventuras para contar. Subo a descolagem Norte e estou bastante cansado. A Lena e o Chico decidem não voar mais, mas eu tento mais um voo. As condição já não eram as ideais mas mesmo assim ainda fiz cerca de 40 minutos de térmica. À noite, jantarada no castelo com sorrisos qb e com o Nuno a revelar a quantidade de impropérios nortenhos dirigidos à minha pessoa, felizmente com o rádio desligado, por não ter ido à nuvem a sotavento. Ainda fomos analisar os voos no computador mas rapidamente porque estava tudo muito cansado mas muito, muito satisfeito.
Dia 25 – Terça-Feira Último dia de Voos. O cansaço já se faz sentir e as saudades de casa também. O dia está pior que ontem. O vento Norte impôs-se desde cedo e fomos para a descolagem de Norte-Baltar. O vento estraga um pouco as térmicas que apresentam uma grande deriva e muito partidas. Mesmo assim, voa-se bem, sobe-se bem junto ao monte e, para quem sabe, até no vale . O Cristiano saca uma térmica no chão que enrola até à descolagem, enrolando a térmica do dia. Fantástico!!! Mas tudo o que é bom tem de acabar, fomos aterrando um a um, dobrando as asas e arrumando a trouxa para voltar a casa. É bom voltar para casa com os objectivos cumpridos. Voámos muito, igualámos as descolagens com as aterragens e estamos cansados mas muito contentes de voltar para casa para junto da família que já reclama a nossa presença. Um muito obrigado à equipa da Wind e até à próxima.....em Mirandela!!!!

1 Comments:

  • At 3:11 da tarde, Blogger Unknown said…

    seria possivel indicar-me como chegar aos pontos de descolagem de parapente da Serra do Larouco?

     

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