Trapo Voador

Relexões e fotos sobre parapente / Thoughts and photos about paragliding

13.4.08

Voar (e não só) Algodonales

Foi muito bom passar uns dias com pessoas com que nem sempre temos o tempo e as oportunidades necessárias – Sílvia, Lena, Bruno, Nunos, Doctor Black e com a malta mais “nova”, que trouxe também uma boa onda ao grupo.Da "Cueva" nada a dizer. Uma actividade a repetir novamente, sem duvida nenhuma, embora a decisão tenha sido pouco democrática.......( boa Nuno, estiveste bem). Uma aventura inesquecível e de uma beleza “Excêntrica”(sempre gostei de "cuevas", não sei porquê...). Para acabar o dia nada melhor do que voar. E assim foi, com uma sorte descomunal, o levante baixou e lá conseguimos voar pela primeira vez. Uma excelente restituição, a fazer lembrar Linhares, onde se subia por todos os lados e onde acabávamos a aterrar estilo morcego. O movimento mais visto no ar, nesse dia, foi o do pessoal a tirar os óculos escuros e a pensar "Ah, afinal ainda tenho mais dez minutos de voo". A Sílvia e o Nuno Virgílio, os primeiros a descolar, ainda estiverem bem alto e a grande maioria dos pilotos fez ainda 40 minutos de voo.Depois Sábado, um dia complicado, dado que o vento não dava mostras de acalmar e, quando parecia que estava no bom caminho, acelerou e não deu hipóteses. Mas o espírito continuava alto, e vai de descer a montanha a pé, que de carro não! Isso nunca. Os outros que foram de carro prepararam uma bela castanhada para os aventureiros.Domingo - A grande Aventura!!!Domingo foi decidido encerrar as actividades por volta das 11 horas. Embora as montanhas sobre Ronda não tivessem a mesma quantidade e espessura de nuvens dos dias anteriores, o vento continuava forte e o pessoal decidiu ir andando a ver se dava para voar no caminho. Eu tinha duas opções: ou vinha com a malta até ao cerro, ver se se voava, ou ficava em Algodonales à espera da minha boleia para Algeciras. Depois de alguma indecisão decidi ficar (e com a asa) não fosse o vento amainar.Despedidas feitas, restava-me uma seca de 7 horas a espera da minha boleia....mas não foi bem assim. Aproveitei para ir tirar umas fotos na vila e fui ter com o Gerard, um senhor que tem um centro de parapente em Algodonales. Primeiro problema: ele não tinha carro e não sabia se podia ir voar. Ainda me deu o telefone de um Inglês que faz subidas para a descolagem, mas o tlm estava desligado. Fui para o Albergue, onde me pus a dormir. Quando acordo, por volta da 3, ainda não se estava a voar, mas 5 minutos depois descola a primeira asa, depois a segunda....outra ...outra...Aí comecei a ficar nervoso. Já se voa e eu sem ninguém para me levar para a descolagem. Ligo ao Gerard, e nada, ao Inglês, nada, ao Paco de Albergue, nada. Vou dar uma volta pela vila. Todas as escolas de parapente estão sem ninguém. Nada feito. Mas não desisti. Fui ter com a senhora do Albergue e perguntei onde poderia arranjar alguém para me levar à descolagem. Disse-me que talvez houvesse uma hipótese, um senhor que estava a trabalhar, mas que talvez não se importasse. O senhor lá veio e, depois de alguma conversa e de mais 30€, estávamos no carro a caminho da descolagem. Com isto tudo são já 16:15 e o caminho até à descolagem é longo.Depois começam as dúvidas: será que o vento não vai estar forte quando chegar....estou sozinho e sem ninguém que saiba que eu estou a voar....a minha recolha não conhece o caminho, e só deve chegar pelas 20/20.30, o que implica uma espera de, pelo menos, 1.30 na aterragem...só cá voei na sexta feira e não sei onde se sobe, será que vou fazer só uma marreca?....será que me esqueci do GPS no quarto?.....Ao contrário de outras situações, controlei bem toda esta ansiedade. Quando cheguei à descolagem comecei a preparar todo o equipamento e a observar onde os outros pilotos estavam a subir e como estava o dia. O pessoal das escolas estava com dificuldades em descolar porque o vento tinha alguma intensidade e, quando entravam os ciclos, o vento subia imenso. Preparo tudo, espero um ciclo mais fraco e descolo na perfeição. Sigo pela esquerda, como tinha feito na sexta-feira, e em direcção aos outros pilotos que estavam alto, tentando ir até à vertente mais virada a Leste. Mas a parede não dá muito apoio e já se encontra, na sua maioria, à sombra. Os pilotos que estão mais alto vêm em direcção a Oeste, para a vertente ao sol, e os pilotos que vão para o vale não sobem. Eu estou abaixo da descolagem e decido seguir também em direcção à vertente ao sol. Volto novamente à descolagem, embora consideravelmente mais baixo, mas lá consigo subir um pouco. O vento parece-me mais S que SE pelo que, no venturi à frente da descolagem, se subia um pouco. Continuo baixo em relação aos pilotos que estão mais altos que a descolagem. Tento descobrir como chegar ao pé deles....não quero marrecar. À minha frente vejo um nó da estrada, ainda ao sol, com um formato de concha, que ficava bem na frente da crista da descolagem e penso que se há sítio para soltar térmica, é ali. Vou até lá e Bingo!!! Lá estava ela. Enrolo a térmica que me leva até 120m acima da descolagem. Agora posso relaxar, estou ao nível dos pilotos mais altos e decido tirar umas fotos e fazer uns filmes dos abutres que andam a enrolar com os parapentes. Depois, uma nova decisão a tomar. Os pilotos que tinham subido comigo foram para a vertente virada a O NO, subir nas térmicas da vertente. Eu não conheço bem o sítio, e tenho de garantir com segurança a aterragem na oficial, por causa da recolha. Não posso arriscar aterrar noutro sítio. Vou um pouco até lá, olhando para o campo de futebol de Algodonales como hipótese alternativa. Entretanto, os pilotos que estão nessa zona também não sobem muito e decido não arriscar. Fico mais algum tempo na crista à direita, que está cada vez mais à sombra, pelo que não me resta muito mais tempo no ar. Começo a descer para o vale e vou em direcção à aterragem.Já na aterragem meto conversa com um piloto alemão que tinha passado o voo a cumprimentar-me, pensando que Eu era um piloto do seu grupo. Conversa puxa conversa, lá arranjo boleia para Algodonales. Fixe!!! Dois problemas resolvidos a recolha e um belo banho antes de jantar. Termina assim a minha aventura em Algodonales. O voo, enquanto voo, não foi nada de extraordinário, mas para mim significou muito, por todas as opções tomadas e pela aventura vivida. Foi pena não estar mais ninguém com quem partilhar toda a minha felicidade, mas para mim esta aventura significou muito. Até à próxima.

Um Abraço e Bons Voos,